
Em 2 de abril de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a aplicação de tarifas comerciais sobre importações oriundas de 185 países. A medida, segundo a Casa Branca, busca corrigir desequilíbrios comerciais com base em cálculos de reciprocidade tarifária, embora o critério adotado tenha utilizado o déficit comercial como principal referência.
A determinação estabelece uma taxação mínima de 10% para todos os produtos importados pelos EUA. Esse percentual é o piso, e há variações conforme o país de origem. O Brasil foi incluído no grupo das nações que sofrerão a alíquota mais baixa, ao lado de Argentina, Colômbia, Austrália e Singapura. Em contrapartida, outras regiões receberam tarifas superiores, como a União Europeia (20%), Japão (24%), Índia (26%) e China (até 54%).
O governo norte-americano nomeou a medida como “tarifas recíprocas”. Contudo, o critério adotado para calcular as alíquotas não reflete uma equivalência direta entre as tarifas aplicadas pelos parceiros comerciais e as impostas pelos EUA. O cálculo baseou-se na divisão do déficit comercial bilateral pelas exportações de cada país aos EUA, multiplicado por 0,5. Segundo o estrategista-chefe da Jones Trading, Mike O’Rourke, a abordagem do governo tem caráter punitivo contra nações com superávits elevados em relação aos Estados Unidos.
Entre os mais impactados estão países com economias frágeis ou instabilidade interna, como São Pedro e Miquelão e Lesoto (50%), Camboja (49%), Laos (48%), Madagascar (47%), Vietnã (46%) e Mianmar (44%). Já entre os grandes parceiros comerciais, destacam-se Índia, Japão e o bloco europeu, com percentuais entre 20% e 26%.
O anúncio provocou forte reação internacional. Bolsas de valores em diversos continentes registraram quedas expressivas. Em Tóquio, a Bolsa acionou um circuit breaker no dia 7 de abril. Governos de vários países ameaçaram retaliações e suspensões de investimentos nos Estados Unidos. Economistas apontam que a política pode reduzir o ritmo da atividade econômica norte-americana, uma vez que o encarecimento dos produtos importados tende a pressionar a inflação e comprometer a rentabilidade das empresas locais.
As consequências da nova política tarifária também alcançam o Brasil. Por estar no grupo com a menor alíquota, o país pode encontrar espaço para ampliar sua presença em mercados como o chinês. O agronegócio é apontado como um dos possíveis beneficiados, principalmente no comércio de soja, milho e carnes. A consultoria MB Associados projeta uma possível intensificação nas trocas comerciais com o Sudeste Asiático, Japão e Europa.
Por outro lado, setores brasileiros ligados à exportação de aço e alumínio tendem a enfrentar dificuldades. Esses produtos foram taxados em 25%, sem diferenciação de origem. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria, os derivados de ferro e aço representam o segundo principal item da pauta exportadora brasileira aos EUA, atrás apenas do petróleo. Em 2024, as vendas externas desses produtos somaram US$ 2,8 bilhões, enquanto o petróleo atingiu US$ 5,8 bilhões.
A adoção das tarifas por parte dos EUA deve provocar alterações nos fluxos comerciais globais e influenciar a reorganização de cadeias de suprimento. Para analistas, a medida indica um afastamento das normas multilaterais e tende a estimular respostas similares de outras economias.