Morre o Papa Francisco, líder que rompeu tradições e se tornou símbolo de diálogo e inclusão

Morre o Papa Francisco, líder que rompeu tradições e se tornou símbolo de diálogo e inclusão

Primeiro papa jesuíta e latino-americano da história conduziu a Igreja Católica em um período de profundas transformações sociais e espirituais

Cidade do Vaticano, 21 de abril de 2025 — Um dos papas mais carismáticos e influentes da história recente da Igreja Católica, Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, faleceu nesta segunda-feira aos 88 anos, após um agravamento de seu estado de saúde. Internado por 38 dias entre fevereiro e março por uma bronquite que evoluiu para pneumonia bilateral, o Pontífice não resistiu às complicações.

Na manhã de domingo (20), visivelmente debilitado, Francisco apareceu pela última vez na sacada da Basílica de São Pedro para a tradicional mensagem de Páscoa Urbi et Orbi, deixando sua derradeira bênção aos fiéis e ao mundo.

O Vaticano confirmou o falecimento às 7h35 (horário de Roma), equivalente a 2h35 no horário de Brasília. “O Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja”, afirmou o comunicado oficial.


Um papado de transformação

Primeiro papa jesuíta e latino-americano, Francisco liderou a Igreja em tempos desafiadores. Desde sua eleição em 2013, após a renúncia de Bento XVI, ficou conhecido pela postura simples, gestos de humildade e firme posicionamento sobre questões sociais, ambientais e políticas.

Adotou uma Igreja em saída, próxima dos pobres, dos imigrantes e dos marginalizados. Sua encíclica Laudato Si’, publicada em 2015, se tornou um marco na defesa do meio ambiente, e seus apelos por justiça social e dignidade humana ecoaram globalmente.


Jornada de fé e compromisso

Nascido em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936, filho de imigrantes italianos, Bergoglio ingressou na Companhia de Jesus aos 22 anos. Estudou filosofia e teologia, lecionou em colégios católicos e foi ordenado padre em 1969. Tornou-se provincial dos jesuítas na Argentina durante a ditadura militar e foi reconhecido por sua defesa discreta, mas constante, dos direitos humanos.

Em 1992, foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires e, em 1998, arcebispo da capital argentina. Ganhou notoriedade por visitar favelas, andar de transporte público e manter uma vida austera, mesmo nos altos cargos eclesiásticos.


De cardeal a Papa

Elevado a cardeal por João Paulo II em 2001, Bergoglio participou de importantes sínodos e se destacou por defender uma Igreja mais aberta, acolhedora e engajada com as dores da humanidade. Sua eleição como papa, em 13 de março de 2013, marcou o início de um novo tempo.

Ao adotar o nome Francisco, homenageando São Francisco de Assis, sinalizou sua opção preferencial pelos pobres, pela paz e pela simplicidade. Seu papado foi marcado pela ênfase na misericórdia, na reforma da Cúria Romana, no diálogo inter-religioso e no enfrentamento dos escândalos de abusos na Igreja com um olhar voltado à justiça e à transparência.


Legado

O legado de Francisco ultrapassa as fronteiras da fé. Com coragem e empatia, ele buscou reaproximar a Igreja das pessoas, inclusive dos que estavam distantes ou marginalizados. Foi o papa dos gestos simbólicos: lavou os pés de imigrantes, visitou prisões, pediu perdão pelos pecados da Igreja e sentou-se à mesa com líderes de diferentes religiões, culturas e ideologias.

Seu compromisso com a paz o levou a lugares onde pontífices jamais haviam estado, como o Iraque e o Egito, reforçando seu papel de pontífice-pontífice – aquele que constrói pontes.


Cerimônia e sucessão

O funeral de Francisco será realizado conforme seus próprios desejos: simples, sem ostentação, com sepultamento na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, rompendo com a tradição de sepultamento na Basílica de São Pedro.

O conclave para escolha do novo papa deverá acontecer dentro de 15 a 20 dias, conforme estabelecido pelas normas da Igreja Católica. O mundo aguarda quem será o sucessor daquele que se tornou, para muitos, um ícone de esperança e renovação no século XXI.